Com o intuito de discutir diferentes olhares na fotografia e de trazer informação e inspiração, escreveremos vez ou outra sobre os "Olhares da Fotografia", sempre com algum fotógrafo que fez a diferença na história e que nos fez de alguma maneira mudar como olhamos o mundo. Nesse texto, contaremos um pouco de Diane Arbus. Uma das principais mulheres da fotografia, que trouxe à tona o pensamento crítico-reflexivo sobre padrões, o socialmente aceito e o real.
Diane Arbus nasceu Diane Nemerov em 14 de março de 1923 na cidade de Nova York. Sua família, rica e judaica, era composta por ela - filha do meio -, seus dois irmãos e seus pais - donos de uma loja de artigos de pele, mas que, por conta da Grande Depressão, em 1929, acabou decaindo. Seu pai se aposentou e começou a se dedicar à pintura, o que influenciou os filhos artisticamente. Diane, adolescente nessa época, começou a ter aulas particulares de artes e a se envolver nos negócios de sua família - os Russek. Desse modo, conheceu Allan Arbus, que trabalhava para eles no departamento de arte. Namoraram escondidos até se casarem em 1941 - quando Diane completou 18 anos.
Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, Diane começou a fotografar e ganhou sua primeira câmera de Allan. Foram contratados, então, pelo pai de Diane, para criarem os anúncios publicitários de sua loja nos jornais. Um pouco depois, em 1946, começaram a trabalhar em conjunto produzindo para revistas de moda como Seventeen, Harper’s Bazaar, Vogue e Glamour - ele fotografava, enquanto ela fazia a direção de arte e styling. Uma de suas fotografias fez parte da exposição “Family of Man” no MoMa, em 1955. Foi uma das primeiras imagens em preto e branco por artista homem e mulher ali expostas.
Diane não estava satisfeita com o que estava fazendo e partiu para a fotografia documental, área que trabalhou pelo resto de sua vida. A partir de 1956, seguiu carreira solo, teve aulas com a fotógrafa Lisette Model - sua maior influência - e começou a retratar pessoas fora dos padrões e seus estilos de vida. Por conta disso, ficou conhecida como a fotógrafa dos freaks. Marginais, homossexuais, artistas de circo, hippies, amputados, prostitutas, idosos, doentes, comunidades de nudismo… Nada passava batido por suas lentes.
Diane descreveu suas próprias investigações como aventuras que testavam sua coragem e como uma emancipação de sua infância comum e confortável. Estava sempre em busca de experiência e preocupada com o impacto que iria causar com seu olhar. O formato quadrado, o preto e branco e o flash em plena luz do dia ajudavam a proporcionar uma aura de estranheza ao retrato, deixando-o mais marcante e perturbador. Mas mais do que suas técnicas fotográficas - o que não era sua real preocupação -, queria conhecer bem seus modelos, conviver com eles e construir uma relação com cada personagem, a fim de forçar a intimidade entre o espectador e o sujeito, porém de forma fria.
Estava criticando a sociedade ao mesmo tempo em que se descobria. Restituir a humanidade era seu objetivo - dizia que a monstruosidade reside no olhar de quem olha, e não no corpo de quem é olhado. Diane fazia com que seus modelos confiassem nela e se entregassem a seu trabalho. Se sentiam tão confortáveis com sua presença, que passavam a não notá-la mais.
Na década de 1960 se tornou professora na Parsons School of Design e na Rhode Island School of Design, se tornando um referencial da fotografia moderna. Teve grande reconhecimento e ganhou a bolsa Guggenheim em 1963 e em 1966, tornando possível um maior investimento em seu trabalho.
Em 1966, se hospitalizou por conta de uma hepatite. Também sofria depressão, impulsões sexuais e praticava incesto com seu irmão e, por conta de suas doenças, sentia que sua independência havia sido perdida. Com duas filhas - Doon e Amy Arbus -, se divorciou de Allan em 1969, apesar de já estarem separados desde 1959.
Em 1970, lançou seu trabalho mais famoso, conhecido internacionalmente: “A box of ten photographs” Porém, em 1971, se suicidou cortando seus pulsos e tendo uma overdose de soníferos.
No ano seguinte, teve seu trabalho exposto na Bienal de Veneza e se tornou a primeira fotógrafa norte-americana a conseguir este feito. Também em 1972, o MoMa criou uma retrospectiva de suas fotografias e a exposição viajou entre EUA e Canadá, sendo vista por mais de 7 milhões de pessoas. Ainda no mesmo ano, foi lançado um livro sobre sua vida, o “Diane Arbus: An Aperture Monograph” - um dos livros de arte mais vendidos da história.
Diane deixou seu legado, influenciou e continua influenciando novos e velhos fotógrafos. Ela conseguiu documentar o que sempre esteve ali, mas que ninguém enxergava, ou até se recusava a enxergar, de tal modo que impactou a todos - simplesmente prestando atenção no que estava mais perto do que se imaginava, porém, por não ser o padrão, se fazia invisível aos olhos da sociedade.
コメント